Segue neste momento a caminho da Austrália uma barca.
Há coisa de quinze dias quis a coincidência que uma galeria em Melbourne nos comunicasse a intenção de promover uma exposição subordinada ao tema Barca de Esperança/Barca de Loucos – Um Só Mundo. Caso estivessemos interessados enviar-nos-iam uma maquete que deveríamos construir e trabalhar sem quaisquer limitações.
Para além das conversas que já tínhamos tido para acertarmos as primeiras ideias em torno da nossa própria barca, o trabalho que o Rui, o Fernando e eu realizámos sobre a maquete ajudou a dar um empurrão suplementar. Ainda que não saibamos ainda qual o teor ou o aspecto final da exposição no Centro Cultural de Cascais, muitas ideias tomaram raiz durante o interlúdio jocoso que o trabalho em torno deste projecto proporcionou. E se é certo que no plano formal nada aproxime estes dois projectos, no plano filosófico não andarão muito distantes um do outro, e por essa razão parece-me oportuno deixar aqui registado parte do texto que a galeria Australiana nos facultou:
A Barca dos Loucos
A Barca dos Loucos representa a humanidade no seu todo navegando através dos mares do Tempo.
Um navio, uma pequena embarcação, uma barca perdida.
Para nosso grande infortúnio, todos somos loucos:
Vivemos exclusivamente para o Aqui e Agora e consumimos de forma irracional; somos perdulários, deitamos tudo abaixo, queimamos a terra e plantamos colheitas sedentas de água num clima que se torna cada vez mais tórrido, na crença de que o poderemos fazer para sempre.
Entretanto a nossa barca anda por aí à deriva sem nunca conhecer o rumo, nunca encontrando o cais.
Enquanto artistas estamos cientes da responsabilidade que temos, de alertar o público para questões como o aquecimento global, as suas causas e efeitos, e de lançar a todos o desafio de ver as coisas de outra maneira, quanto mais não seja no breve instante de contacto visual com a nossa obra, e de suscitar as perguntas: Qual a nossa posição no mundo? De que modo o afectamos? O que é que podemos fazer?
Talvez seja uma aspiração excessivamente ambiciosa, mas acreditamos que os tempos de uma Arte que se referencia a si própria e que explora apenas a Forma sem grande conteúdo ideológico é coisa do passado. O tempo urge e são os artistas que devem tomar o comando na procura de atingir novos públicos e questionar de forma pertinente o modo como vivemos. Os artistas têm que estar informados para poderem informar. A corrente só mudará quando todos remarem numa direcção comum – nessa altura governos, grandes empresas e o público tomarão consciência do quanto a situação é urgente e, com alguma sorte, a nossa barca talvez chegue a bom porto.
Quer o faça de modo subtil, quer o faça com mão pesada e espalhafato não temos dúvidas de que uma das armas mais eficazes para abordar certas questões está nas mãos do artista. Todos vivemos cada vez mais entorpecidos pelos media – especados diante do televisor sem capacidade para discernirmos a notícia que ora escutamos daquela que a antecedeu. Somos exímios nas artes do ‘Streaming’, do ‘Podcast’, do ‘Download’, perfeitamente capazes de surfar, escutar e ler opiniões favoráveis e divergentes sobre tudo e mais alguma coisa – mas não será tudo isto um pouco de mais? Não estaremos a atingir rapidamente o ponto de saturação?
Temos que procurar novas vias para educar.
Enquanto artistas temos que assumir a responsabilidade e aliarmo-nos a outros na tarefa de inverter a força e a direcção desta corrente. A Arte tem o seu papel a desempenhar. [tradução/adaptação jfx]
São ideias a ponderar e que certamente nos afectarão de uma maneira ou de outra no que respeita ao nosso percurso em conjunto. Se encontrarão ou não expressão plástica no projecto 3 homens numa barca será outra questão.
Entretanto, a brincar a brincar, chegámos a ‘Uma Barca de Esperança Num Mar de Loucos que ficará exposta juntamente com o trabalho de outros 33 artistas de 14 países no Yarra Sculpture Gallery em Melbourne de 18 de Junho a 6 de Julho, e que acompanhará em seguida a exposição individual de Julie Collins e Derek John no The Ballarat Mining Exchange, Ballarat, Australia entre 2 e 10 de Agosto de 2008. [jfx]
Para ver todas as barcas desta exposição siga o seguinte Link: